O economista Renato Gorski, formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) conversou com o MT Econômico sobre os possíveis impactos do novo coronavírus para a economia do Estado.
Em sua avaliação, apesar da proliferação da doença pelo Brasil, é importante que o comércio continue a funcionar para não afetar o funcionamento pleno da economia.
Renato Gorski pontuou a importância do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na arrecadação de Mato Grosso.
“A economia funciona e diminui o risco de falências e desemprego. Se ela continuar parada o risco é maior. A possibilidade de ocorrer falência e despesa de funcionários continua existente. As empresas preferem demitir para redução de custos do que efetivamente fechar”, disse em trecho de entrevista.
Confira na íntegra a entrevista:
MT Econômico: Muito se questiona a respeito dos impactos do coronavírus na economia. Alguns citam um possível colapso, outros apontam que não haverá efeito significativo. Quais são os pontos que precisam ser analisados para responder essa pergunta?
Economista Renato Gorski: A economia é a engrenagem de uma sociedade, se não produzir, não vende, não se fatura, não arrecada impostos, não se paga salários, não se obtém renda. Isso compromete todo o ciclo. É básico. Nos Estados que foram decretados o distanciamento social e a paralisação das atividades produtivas, será percebido um impacto nas finanças das empresas, das famílias e do setor público.
Importante observar a postura do presidente Donaldo Trump, que visando evitar uma catástrofe econômica estuda meios de manter a economia ativa. Da mesma forma que o presidente Jair Bolsonaro está vendo o perigo de se manter uma economia congelada, que poderá causar uma tragédia maior na sociedade do que o coronavírus.
MT Econômico: O fechamento do comércio, como shoppings e lojas do centro, apresenta efeito significativo na economia a curto, médio ou longo prazo?
Economista Renato Gorski: A paralisação das atividades produtivas da indústria e do comércio vai levar à suspensão do trânsito, ou seja, da circulação de mercadorias. Isso vai reduzir a geração de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A paralisação dos serviços também reduz a arrecadação do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), o que provoca também a queda ou interrupção do faturamento dos agentes econômicos envolvidos.
O ICMS é a principal fonte de arrecadação do Governo de Mato Grosso. Se essa fonte secar o orçamento do estado fica comprometido, bem como a folha de pagamento, despesas e repasses para os outros poderes. O efeito imediato no curto prazo é de 30 dias, no médio prazo é de 90 dias e no longo prazo é de 180 a 360 dias.
MT Econômico: Você analisa a possibilidade de possível falência de empresas, bem como o aumento do desemprego como consequência?
Economista Renato Gorski: Decreto do Governo liberou 42 segmentos de atividades da economia, incluindo alguns ramos do comércios, transportes, construção, entre outros. Esse decreto vai ajudar a economia a rodar. A economia funciona e diminui o risco de falências e desemprego. Se continuasse parado o risco seria maior. A possibilidade de ocorrer falência e despesa de funcionários continua existente. As empresas preferem demitir para redução de custos do que efetivamente fechar.
MT Econômico: Neste cenário, existe algo que possa ser feito para minimizar os efeitos do coronavírus, sem que as medidas de emergência para sua contenção sejam desrespeitadas?
Economista Renato Gorski: Primeiramente é inegável que existe o vírus e um risco. Na Itália a taxa de mortalidade dos doentes foi a mais alta ficou de 7 a 10%, já na Alemanha a letalidade 0,5 e na China a taxa ficou em 4%.
Na Europa e na China o vírus surgiu no inverno, e inverno rigoroso. O desconhecimento da doença inicialmente na China e depois na Itálica acelerou o número de vítimas. É importante verificar o impacto nas idades. O impacto das mortes é acentuado a partir dos sessenta anos.
É importante adotar o isolamento vertical, dos trabalhadores, do grupo de risco acima de 60 anos. É necessário liberar a população de até 60 anos para voltar a trabalhar, com os devidos cuidados, de higienização, álcool gel, máscaras e o que for necessário.
Tem que deixar a economia funcionar, e ir tratando dos eventuais casos que venham a surgir, sem desespero e alarme extremo que está ocorrendo no Brasil.
O Brasil na época da copa construiu e reformou cerca de oito grandes estádios, em Cuiabá também foram investidos cerca de mais de R$ 1 bilhão para construir um estádio que é subutilizado (pão e circo). Então a saúde pública não só em Mato Grosso como nos outros estados e capitais, em geral já funciona no limite, com filas, sistema de regulação de pacientes, espera para cirurgias etc. Na rede privada quando tem surto de viroses também fica abarrotada.
Em Cuiabá com a atuação de dois prefeitos Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro se concretizou a obra do Pronto Socorro Municipal, o novo hospital Julio Muller ficou parado vários anos, não se vê preocupação em investir na infra-estrutura de saúde, quando ocorre um novo vírus ou uma pandemia é aquela correria. Precisa se planejar melhor a saúde no âmbito dos governos (federal, estadual e municipal).
Agora para emergência o ideal é que cada estado possa montar hospitais de Campanha (até o número necessário de leitos) com apoio das prefeituras e das Forças Militares, para atender o excedente em virtude do COVID-19, o estado deve atuar como regulador para que o álcool 70%, álcool gel e os produtos médicos cheguem aos usuários para ‘tocar o barco’.
MT Econômico: Existe a possibilidade do Estado de Mato Grosso colapsar como consequência da perda de arrecadação do ICMS?
Economista Renato Gorski: O governador Mauro Mendes parece que está tomando medidas na direção de retomar plenamente a economia. Com o decreto 425 o risco de colapso já se vê reduzido. Também poderá se revisar esse decreto a ampliar a sua abrangência no sentido de restabelecer a atividade econômica.
Pode-se criar problemas que extrapolam a alçada de Mato Grosso, como por exemplo se o Governo de outros Estados fechar rodovias, o que dificultaria a circulação. Os governadores também têm que chegar em um acordo e bom senso. Evidente que nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, ou até no Distrito Federal se existir maiores riscos, existem medidas pontuais que talvez precisem ser tomadas.
Os governadores também não podem fazer de plataforma da campanha presidencial de 2022 o problema da gestão do coronavírus em 2020. É o fim da picada os poderes, os governadores usarem a Covid para desestabilizar o Governo Federal, não faz sentido os políticos irem contra a sua própria nação.
MT Econômico: Considerando que, ainda, não se vislumbra a contenção do coronavírus a curto prazo, estima-se que o trabalhador informal não tenha renda para sanar suas despesas básicas de subsistência. É sustentável que o Estado ou até mesmo a União forneçam auxílios?
Economista Renato Gorski: A população de baixa renda e os trabalhadores informais serão os segmentos mais atingidos e que sofrerão impactos maiores. Se liberar as feiras e o comércio ambulante, o impacto para essas camadas da população serão menores. Embora já existam famílias e profissionais desses segmentos passando dificuldades, principalmente porque eles não têm reservas financeiras. Cerca de 68% da população econômica do Brasil não tem poupança e nem reserva, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
É salutar que a União, o Estado e os municípios estendam algum benefício para essa população. Programas temporários podem absorver o custo, mas concomitante tem que liberar o comércio e as atividades econômicas.
Veja o contrassenso, liberaram que os caminhoneiros continuassem trabalhando, aí eles não encontram restaurantes abertos por que está proibido o comércio na beira da estrada, e como esse profissionais fazem? Eles encontram a maior dificuldade. Precisa sabedoria e bom sendo dos governos. Precisa achar o ponto de equilíbrio, que tudo mundo precisa das cargas, alimentos, combustíveis e produtos que são transportados. O comitê de crise de cada governo estadual, municipal e do governo federal, precisam estar em sintonia, atendo, revisando e avançando os trabalhos. Deixar um pouco de politicagem de lado, o inimigo agora é comum e tem que ser resolvido.
Renato Gorski, Economista, atua com assessoria econômica e financeira para empresas em geral